sexta-feira, 14 de maio de 2010

Você perdoaria uma traição?

Trair é uma palavra forte, lembra atraiçoar, apunhalar pelas costas, ser desleal, e nem sempre ser infiel tem este significado. Não podemos colocar toda a culpa no outro, pois uma relação para ser perfeita depende dos dois. O desgaste, a falta de paixão, a incompatibilidade sexual e a rotina são algumas das causas para que se pule a cerca, sinal de que alguma coisa não vai bem no casamento ou namoro. Até que ponto cada parte é culpada não podemos dizer com certeza, mas o perdão depende principalmente da maneira como se encara a infidelidade.
O homem e a mulher têm uma visão diferente do sexo, assim como da traição. Para a mulher, é mais fácil perdoar uma pulada de cerca se o homem não está envolvido emocionalmente. O importante é ela se sentir especial, de modo que nenhuma outra mulher abale a relação. Para o homem, uma mulher fazer sexo casual com outro é bem mais difícil de perdoar, pois mexe com o ego masculino e a virilidade. O homem quer ser o que proporciona maior prazer, o mais atraente, o bam bam bam. Saber que a própria mulher está transando com outro só o fará pensar que ele não é tão bom quanto pensava, então, ele se sente reprovado na matéria de satisfazê-la, sem perceber que a causa pode nem ser sexual, mas alguma atitude ou indiferença dele.
É difícil perdoar, porque se perde a confiança. Se a traição for com alguém conhecido, como uma amiga ou parenta - por exemplo, é bem pior. Danuza Leão, em seu livro Na Sala com Danuza, em relação à traição de marido com amiga, aconselha: “Se você descobriu – sem sombra de dúvida – que sua amiga e confidente se fez de mais do que engraçadinha para o seu marido – em alguns casos vale também para o ex-marido -, corte direto, sem perdão. Já que você não pode matá-la, o que seria o ideal, rompa, ignore-a, nunca mais cumprimente. Há certos crimes que não prescrevem – e traição de amiga é uma delas. De marido é menos grave, acredite. Até porque eles acabam contando.” Algumas mulheres interpretam o fato do marido contar sobre uma traição como tentativa dele de manter o laço de confiança, mostrando-se arrependido. Mas em alguns casos, o marido quer mesmo que a mulher o mande embora, pois assim se sentem menos culpados por saírem de casa por conta própria. 
Quando alguém descobre que foi traído, a 
frase que mais lhe passa pela mente é Onde foi que eu errei?. Tentar entender as causas da traição, o que fez o parceiro se interessar por outra pessoa, qual a parcela de culpa que lhe cabe, se perdoa ou não, são dúvidas que tomam conta da pessoa. Mas as respostas a estes questionamentos nem sempre são iguais a todos, não existe causa certa para suprir tais dúvidas. Há casos e casos. Alguns homens têm natureza infiel, não conseguem ser monogâmicos, por mais linda e maravilhosa que a mulher seja, eles traem. Diego Rivera é um exemplo. Frida Kahlo, artista plástica mexicana, suportou as traições de Diego por anos, talvez por dependência emocional ou medo de ficar sozinha. Dizia não dar importância, desde que ele fosse leal. Mas em uma de suas cartas a Diego, publicada no livro Cartas Apaixonadas de Frida Kahlo, de Martha Zamora, ela desabafa: “Acho que o que está acontecendo é que sou meio estúpida e uma tola, porque todas essas coisas aconteceram e se repetiram nos sete anos que vivemos juntos. Toda esta raiva simplesmente me fez compreender melhor que eu o amo mais do que minha própria pele, e que, embora você não me ame tanto assim, pelo menos me ama um pouquinho – não é? Se isto não for verdade, sempre terei a esperança de que possa ser, e isto me basta...” Quando Diego a traiu com a irmã dela, ele foi desleal. A irmã não era uma estranha, era alguém que ela gostava muito. Na raiva, Frida cortou os cabelos, deixou-os bem curtos, e expôs a dor sentida em uma de suas telas. Passados alguns anos, ela se reconciliou com o marido e fez as pazes com a irmã, ambos cuidaram dela até a sua morte. Muitas agem como Frida, para elas basta pensar que o parceiro as ama nem que seja um pouquinho. Amam mais a ele do que a elas próprias, são as chamadas “mulheres que amam demais” (ou que se amam de menos).
O lado da amante também não é nada fácil, apesar de brincarem ao dizer que é melhor ser amante que esposa, pois a amante só fica com o lado bom, a maioria sonha em se tornar a matriz. Festas de final de ano, de aniversário, passear de mãos dadas em locais públicos nunca farão parte da rotina da amante. Passará o dia dos namorados solitária, se empanturrando de chocolates. Para as que adoram presentear, perda de tempo, como ele explicaria para mulher o presente? Fora as viagens que ele sempre realizará com a esposa. A amante sempre será vista como solitária pelos amigos, e muitas se anulam pelo homem, esperando o dia em que ele deixará a esposa para ficar com elas. Em alguns casos, quando este dia chega, não é por causa delas, e sim porque a esposa não aguentou, não quis mais. Na maioria das vezes a mulher é quem pede a separação, o homem toma esta iniciativa se realmente está apaixonado pela outra.
Roberto Freire definiu bem a complexidade do relacionamento bígamo em seu livro Sem Tesão Não Há Solução: “O problema maior que sempre necessitamos enfrentar nessas experiências é o ciúme. Costumo dizer que toda vez que vamos viver um triângulo amoroso, esse triangulo acaba nunca sendo equilátero e azar de quem fica com o ângulo menor, pois vai morrer de ciúmes, atrapalhando a dinâmica da triangulação.” Sempre haverá alguém que se sentirá recebendo menos do que merece. Somos possessivos por natureza, egoístas no amor e queremos ser exclusivos. Difícil saber como agir quando sabemos da traição. Tapar o sol com a peneira não é aconselhável e nem sadio para a relação. Ignorar ou fingir que perdoou, para na primeira briga cobrar do outro a traição, só irá desgastar ainda mais a relação. Não é algo fácil para se resolver, vai depender de muitos fatores: o tipo de relação, a convivência e experiências que passaram juntos. É necessário os casais dialogarem, discutirem quando foi que o relacionamento parou de dar certo. Mexer na ferida dói, dá medo! Tem casais que não se abrem, criam uma barreira – a mesma responsável pela traição -, e têm medo de conversar. Deixar para conversar em uma outra hora, ir empurrando com a barriga, só vai fazer piorar as coisas, e quando a tal conversa finalmente acontecer, talvez seja tarde demais para recuperar o relacionamento.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

ANÚNCIO EM NEGRITO... (Precisa-se de alguém homem ou mulher...)

"Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la. Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere. Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama. Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos. Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar. P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilacerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar." (Clarice Lispector)